Bem-vindo à página da CLENARDVS!

A Associação CLENARDVS tem como objectivo principal a promoção e o ensino da Cultura e das Línguas Clássicas, em Portugal e nos países de língua portuguesa.

É, essencialmente, uma associação de professores do Ensino Secundário e Universitário, que leccionam línguas clássicas, mas integra, também, nos seus corpos sociais, arqueólogos e historiadores, pois considera que a interdisciplinaridade é essencial para o conhecimento.

A Associação visa apoiar entidades e instituições públicas e privadas, escolas, alunos e docentes a integrar e promover projectos ligados à Antiguidade, levando à democratização do ensino da Cultura e das Línguas Clássicas e permitindo o livre acesso a este saber milenar.

REGISTE-SE AQUI e receba informações acerca das actividades desenvolvidas pela CLENARDVS.


CENTRO DE FORMAÇÃO CLENARDVS

O Centro de Formação de Professores CLENARDVS, credenciado, desde Março de 2018, pelo Conselho Científico-Pedagógico de Formação Contínua e tem organizado inúmeros congressos, colóquios e acções de formação acreditadas.

As suas áreas prioritárias de formação estão estritamente ligadas aos objectivos da Associação, devendo desenvolver-se, fundamentalmente, na área das línguas grega e latina; da Epigrafia; da Literatura; da Etimologia; da História e Arqueologia e da herança material móvel, através do conhecimento dos Museus Arqueológicos e imóvel (Sítios Arqueológicos).



MENSIS FEBRVARIVS

Februarius

IV.20. Februario mensi a Februa, dea quae ita vocatur, nomen factum est: Februam autem praesidem rerum purgandi vim habentem Romani acceperant. Anysius autem in libro De mensibus Februum inferum esse Thusculum língua ait, et coli a Lupercis pro fructuum incremento. Labeo autem a luctu ait nominatum Februarium: feber enim apud Romanos luctus dicitur, illo autem mense mortuos (i.e. Manes) colebat. Verum etiam februare purgare libro pontificales vocant, Februm Plutonem.

Februarium mensem Iunoni consecratum putant, propterea quod Iuno physicis videtur esse era supinus (i.e. inferior): purgatio autem plane aeri convenit. Non solum autem Februarius, verum etiam Februatus dicitur, proptera quod huius mensis praeses, et Februata et Februalis, sacris celebratur. (Ex Ioanniis Lydi – De mensibus libris IV)

Februus

Februus é um deus, provavelmente, de origem sabina, ao qual estava consagrado o mês de Fevereiro. Como neste mês se celebravam as Parentales (entre os dias 13 e 21), festas em honra dos defuntos, Fébruo passou, na época tardia, a considerar-se o Deus dos Mortos e a ser identificado como Dis Pater, o deus Plutão. Então, em Fevereiro, purificava-se a cidade, com libações e oferendas aos mortos, cujas festas se denominavam de Februalia. No calendário antigo[1], a celebração de Februus era uma cerimónia que ocorria no final do ano e correspondia precisamente à purificação dos pecados cometidos durante o ano que estava prestes a finalizar.

Iuno Sospita

No dia 1 de Fevereiro, também se celebrava Juno Sóspita, deusa guerreira adornada com uma pele de cabra, uma lança e um escudo. Em Roma tinha dois templos um no Forum Holitorium e outro no Palatino.


Grimal, Pierre, Dicionário de Mitologia Grega e Romana (tradução de Victor Jabouile), Difel, Lisboa.

Ovídio, «Fastos», Liv. II, vv. 1-2, 19-20, 55-56, trad. De Márcio M. G. Júnior.

Rodrigues, Nuno Simões, Mitos e Lendas da Roma Antiga, Livros e Livros, 2005.

Valverde, José Contreras et alii, Diccionario de la Religión Romana, Ed. Clásicas, Madrid, 1992.


[1] Calendário estabelecido por Rómulo e que apenas tinha 10 meses de Março até Dezembro.



FESTIVAIS ROMANOS PÚBLICOS E PRIVADOS

MENSIS FEBRVARIVS

AMBVRBIO

Sacrifício de um porco, uma ovelha e um touro) ao deus Marte. Relevo do painel de um sarcófago. Mármore, obra de arte romana, primeira metade do século I d.C.[1]

Amburbium ou amburbiale era uma cerimónia expiatória que se celebrava no dia 2 de Fevereiro. As víctimas eram levadas solenemente em procissão em volta da cidade, antes de serem sacrificadas.


[1] https://en.wikipedia.org/wiki/Amburbium#/media/File:Suovetaurile_Louvre.jpg


PARENTALIA

Parentalia[1]

As Parentales (Parentalia) eram festas em honra dos mortos e que se celebravam entre os dias 13 e 21 de Fevereiro. Estas feriae publicae tinham como ritual a realização de pequenas oferendas, feitas em casa, aos antepassados. Durante a novena os templos encontravam-se fechados e não se realizavam matrimónios. O último dia, 21 de Fevereiro, coincidia com as Ferales. A instituição das Parentales deve-se a Eneias.

Est honor et tumulis, animas placare paternas, / parvaque in exstructas munera ferre pyras. / parva petunt manes: pietas pro divite grata est / munere; non avidos Styx habet ima deos. (…) / hunc morem Aeneas, pietatis idoneus auctor, / attulit in terras, iuste Latine, tuas.[2]

“Há que honrar os túmulos, aplacando as almas dos antepassados /e trazendo pequenas oferendas para as cinzas amontoadas. / Os manes pedem pouco: a reverência, em lugar da oferenda cara, é aceite; / o profundo Estige não tem ávidos deuses. (…) / Eneias, digno patrono da piedade, trouxe esses costumes para tuas terras, ó insigne Latino.”[3]


FAVNALIA

O Triunfo de Dioniso, Ancara Turquia[4]

Ovídio, nos versos 193-194 d’Os Fastos, faz menção aos sacrifícios em honra de Fauno – Faunales (Faunalia) – que ocorriam nos Idos de Fevereiro (dia 13) num templo que havia na ilha Tiberina:

Idibus agrestis fumant altaria Fauni / hic ubi discretas insula rumpit aquas.

“Nos Idos os altares de Fauno agreste soltam fumaça / ali onde a ilha separa as águas em duas partes.”[5]


[1] https://www.romanoimpero.com/2019/02/parentalia-dies-parentalii-13-21.html

[2] Ovídio – Os Fastos – vv. 533-536 e 543-544.

[3] Soares, Maria Lia Leal – Ovídio e o poema calendário: Os Fastos, Livro II, o mês das expiações, São Paulo 2007.

[4] https://pbase.com/dosseman/image/43215609

[5] Soares, Maria Lia Leal – Ovídio e o poema calendário: Os Fastos, Livro II, o mês das expiações, São Paulo 2007.


LVPERCALIA

Relevo no altar de Vénus e Marte mostrando a lenda de Fáustulo e o Lupercal[1]

As Lupercales (Lupercalia), nas quais se fazia o sacrífico de uma cabra ou um cabrito, também em honra de Fauno, celebravam-se a 15 de fevereiro, na gruta de Lupercal, no Palatino, local que segundo a tradição a loba teria amamentado Rómulo e Remo:

Tertia post Idus nudos aurora Lupercos / aspicit, et Fauni sacra bicornis eunt. (…) / cornipedi Fauno caesa de more capella / venit ad exiguas turba vocata dapes. / dumque sacerdotes veribus transuta salignis / exta parant, medias sole tenente vias, / Romulus et frater pastoralisque iuventus / solibus et campo corpora nuda dabant.[2]

“A terceira aurora após os Idos observa os nus Lupercos, / e chegam os ritos dos bicornes Faunos. (…) / Imolada uma cabrita, de acordo com o costume, ao cornípede Fauno, / chega convidada uma turba para a modesta refeição / E enquanto os sacerdotes preparam as entranhas trespassando-as / em espetos de salgueiro, o sol estando a meio caminho, / Rómulo, seu irmão e os jovens pastores / ofereciam seus corpos nus ao campo e aos sóis.”[3]

Encontramos ainda referência a estas festas em honra de Fauno no poeta Horácio, na Ode IV, do Livro I:

Soluitur acris hiems grata vice veris et Favoni (…) // Nunc decet aut viridi nitidum caput impedire myrto / aut flore, terrae quem ferunt solutae; / nunc et in umbrosis Fauno decet immolare lucis, / seu poscat agna sive malit haedo.[4]

“Dissolve-se o áspero Inverno, dando a bem-vinda vez à Primavera e ao Favónio, (…) // Agora é tempo de cingir a luzidia testa com o verde mirto, / ou com a flor que a terra livre trouxe; / é hora de oferecer nos umbrosos bosques a Fauno sacrifícios, / quer exija uma cordeira, quer prefira um cabrito.”[5]


[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Lupercal#/media/Ficheiro:Altar_Mars_Venus_Massimo.jpg

[2] Ovídio – Os Fastos – vv. 267-268 e 361-166.

[3] Soares, Maria Lia Leal – Ovídio e o poema calendário: Os Fastos, Livro II, o mês das expiações, São Paulo 2007.

[4] Horácio – Odes I.4 – vv. 1 e 9-12.

[5] Horácio, Odes, tradução de Pedro Braga Falcão, Livros Cotovia, Lisboa,2008.


QVIRINALIA E FORNACALIA

Mosaico representando um calendário rústico, de Saint-Romain-en-Gal, primeiro quartel do século III dC, Musée d’Archéologie Nationale, Saint-Germain-en-Laye, França[1]

No dia 17 de Fevereiro celebravam-se os dias festivos em honra de Quirino, os Quirinalia. Pouco se sabe sobre estas cerimónias e seus rituais, mas Quirino era um deus sabino protector dos pastores e agricultores. Fazia parte da chamada Tríade pré-capitolina constituída por Júpiter, deus do Céu, Marte, deus da Guerra e Quirino, deus da agricultura. Isto é, as entidades protectoras da organização político-social dos povos ancestrais indo-europeus. A Quirino estava também consagrada a colina do Quirinal, local onde se erigiu um templo e se celebravam as festas em sua honra.

Proxima lux vacua est; at tertia dicta Quirino, (…) / templa deo fiunt: collis quoque dictus ab illo est, / et referunt certi sacra paterna dies.[2]

“O dia seguinte é livre, mas o terceiro[3] é consagrado a Quirino. (…) / Ergue-se um templo ao deus; uma colina também levou o seu nome, / e dias certos refazem os paternos ritos em dias certos.”[4]

No mesmo dia celebravam-se os dias festivos designados Fornacalia. Estas celebrações devem-se a Numa Pompílio em honra da deusa Fórnax, que se encarregava de dar aos grãos o ponto exacto de torrefação. Consistia num sacrifício em frente ao forno. Era um dia festivo que não tinha uma data fixa para a sua celebração, cuja marcação cabia ao Curião Máximo. Mas as cúrias que por negligência ou desconhecimento o não o celebravam no dia estipulado, deviam fazê-lo no dia 17 de Fevereiro, último dia possível para as celebrações destas festas. Esta é a razão pela qual recebiam o nome das festas dos tontos – stultorum feriae.

Lux quoque cur eadem Stultorum festa vocetur / accipe: parva quidem causa, sed apta, subest. / non habuit doctos tellus antiqua colonos: / lassabant agiles aspera bella viros. / plus erat in gladio quam curvo laudis aratro: / neglectus domino pauca ferebat ager.

(…) / facta dea est Fornax: laeti Fornace coloni / orant ut fruges temperet illa suas. / curio legitimis nunc Fornacalia verbis / maximus indicit nec stata sacra facit: / inque foro, multa circum pendente tabella, / signatur certa curia quaeque nota, / stultaque pars populi quae sit sua curia nescit, / sed facit extrema sacra relata die.[5]

“Aprende por que o mesmo dia também é chamado a desta dos estultos: / no fundo há uma razão quem apesar de pequena, é conveniente. / A antiga terra não teve sábios colonos: as duras guerras fatigavam os activos varões. / Era mais honroso ser capaz no gládio do que no curvo arado: / o campo negligenciado pelo dono produzia pouco.

(…) Fez-se a deusa Fórnax: os alegres colonos a Fórnax / suplicam para que cuide das suas cearas. / Agora o Curão máximo proclama as Fornacálias com as fórmulas legais / e não torna fica as cerimónias. / E no foro, muita tabela pendendo à volta, / cada cúria é assinalada por uma marca certa; / a parte estulta do povo desconhece qual é sua cúria, / mas refaz no último dia a celebração.”[6]


[1] https://www.photo.rmn.fr/C.aspx?VP3=SearchResult_VPage&STID=2C6NU0AXAJP5

[2] Ovídio – Os Fastos – vv.475, 510-512.

[3] Entenda-se o terceiro dia após as Lupercalia, último dia festivo.

[4] Soares, Maria Lia Leal – Ovídio e o poema calendário: Os Fastos, Livro II, o mês das expiações, São Paulo 2007.

[5] Ovídio – Os Fastos – vv.513-518, 525-532.

[6] Soares, Maria Lia Leal – Ovídio e o poema calendário: Os Fastos, Livro II, o mês das expiações, São Paulo 2007.