ABELTERIVM
Texto: Filomena Barata
A partir de: Bibliografia das Cidades Romanas da Lusitânia em Território Português. Lema d’Origem. 2023

A Estação Arqueológica de Alter do Chão, localizada em Ferragial d’El-Rei é um Imóvel de Interesse Público, classificado pelo Decreto n.º 28/82 de 26 de Fevereiro. Trata-se de um sítio arqueológico tutelado pela Câmara Municipal de Alter do Chão e parcialmente localizado em propriedade da Coudelaria de Alter.
Abelterium localizava-se num território situado entre as bacias hidrográficas de dois dos rios mais importantes da Hispânia, o Tagus e o Anas.
Embora tenha sido amplamente discutida, ao longo dos tempos, a localização de Abelterium, vacilando os investigadores entre Alter do Chão e Alter Pedroso, é um facto que José Leite de Vasconcellos associa sempre Alter do Chão a Abelterium nas suas publicações, questão que parece ter ficado definitivamente comprovada com o aparecimento de um grafito num imbrex identificado no Verão de 2009, no decorrer dos trabalhos arqueológicos realizados em Alter do Chão (ANTÓNIO e ENCARNAÇÃO, 2014).
No entanto, a inexistência de outras fontes epigráficas e a ausência de vestígios arqueológicos de edifícios dotados de funções públicas, políticas e religiosas dificultam a atribuição do estatuto jurídico-administrativo de Abelterium.
A pretensa capitalidade de Abelterium como sede de ciuitas assenta num pressuposto geográfico apresentado por Jorge de Alarcão, pela grande distância entre Ebora e Ammaia, embora outros arqueólogos a mencionem como um núcleo urbano secundário, a exemplo de Vasco Mantas.
A “Casa da Medusa”, descoberta em 1954, durante a realização de trabalhos de construção do Campo de Futebol Municipal, foi objecto de escavação passados dois anos, sob orientação de Bairrão Oleiro, descobrindo-se, então, toda uma zona de construção correspondente ao primitivo balneário, o sistema de canalizações, pavimentados com opus signinum (argamassa) e mosaicos policromos decorados com
motivos geométricos.
Entretanto, as intervenções conduzidas no sítio por António Brazão, em 1979, 1980 e 1982, permitiram identificar um número considerável de estruturas romanas de carácter habitacional, cronologicamente balizáveis entre os séculos II e IV d.C.

Fragmento de lucerna com representação de Sol Invictus. Desenho Hermínia
Santos, gentilmente cedido por Jorge António.
Em data mais recente, os trabalhos foram continuados, quer de investigação, quer de valorização, sob a coordenação de Jorge António, arqueólogo da Câmara Municipal de Ater do Chão, tendo-se dado a conhecer um notável mosaico, datável do século IV, com a representação de Alexandre, o Grande e a batalha de Hidaspes.
Múltiplos são os trabalhos publicados por este arqueólogo, alguns deles em parceria, apontando para que Abelterium seja um núcleo urbano (ANTÓNIO e ENCARNAÇÃO. 2014) e que possa corresponder à actual Alter do Chão.
A identificação de um imbrix do derrube de um telheiro, pertença de um Castor, e que se encontrava em Abelterium (ANTÓNIO e ENCARNAÇÃO. 2009: 197) veio corroborar essa ideia.
Da Antiguidade Tardia conhecem-se várias necrópoles, em torno de Abelterium, uma delas ocupando parte dos balneários romanos da Casa da Medusa, em Alter do Chão (ANTÓNIO. 2014: 30).

Mosaico da Casa da Medusa, Alter do Chão
O Centro Interpretativo da Casa da Medusa
Este centro está actualmente intalado na Casa do Álamo, em Alter do Chão, um solar nobre edificado em 1649, mas profundamente remodelada no século XVIII.

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