Aeminium – Coimbra
Texto BARATA. Filomena (2023) Bibliografia das Cidades Romanas da Lusitânia. Lema d’Origem

A escolha de Aeminium para capital regional, seguramente sob o principado de Augusto, foi determinada pelas vantagens do sítio, controlando a passagem do rio, e da sua posição, entre a costa e o interior montanhoso.
A ciuitas romana sucedeu a um oppidum da Idade do Ferro, do qual subsistem raros vestígios.
O primeiro contacto da população indígena com os romanos teve lugar em 138-137 a. C., durante a campanha militar de Décimo Junio Bruto contra os Lusitanos e Galaicos (CARVALHO, COSTEIRA DA SILVA, LACERDA, 2021: 142).
A cidade conhece com Augusto um plano de remodelação urbanística com a construção de um forum e de um primeiro criptopórtico e abertura de um sistema viário. Dessa primeira fase do forum somente restaram alguns testemunhos, integrados no projeto de Claúdio (ALARCÃO et alii, 2009; ALAR-
CÃO, CARVALHO, e SILVA, 2017).
Tudo leva a crer que a criação da ciuitas de Aeminium se deu no principado de Tibério ou no de Calígula, embora, nos inícios do Império, já tivesse o estatuto político-jurídico de oppidum stipendiarium.
A existência de uma malha urbana anterior aos Romanos e, principalmente, a irregularidade do terreno, condicionou a localização do forum, com cerca de 126 x 84 metros colocado sobre um monumental criptopórtico, do reinado de Cláudio, entre duas pequenas elevações, que albergariam os principais
núcleos populacionais da cidade sobre o rio Mondego. Pela antiga porta da cidade se acedia à ponte romana.
A cidade teria ainda um arco, provavelmente um tetrapylon, cujas ruínas terão sido integradas na muralha medieval (Porta de Belcouce), um aqueduto, um teatro, a norte do forum; e a já citada ponte de que parece não existirem vestígios.
Escavações realizadas sob a direcção de Helena Catarino, do Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, puseram a descoberto vestígios de uma domus no pátio da Reitoria, a sul do forum.
Vasco Mantas aceita a existência, na cidade, de um traçado ortogonal, visível, segundo ele, nas fotografias aéreas, abrangendo pelo menos parte da área urbana, ainda que a definição do cardo e do decumanus se lhe tenha revelado difícil.
O projecto de remodelação e ampliação do Museu Nacional de Machado de Castro proporcionou a realização de extensos trabalhos arqueológicos não só na área das suas seculares instalações (que ocupam a superfície do antigo forum de Aeminium), mas também na zona contígua a poente onde
se edificaram dois novos corpos.

Criptopórtico de Aeminium
A primeira referência à existência de Aeminium surge no itinerário de Antonino, um itinerário que procurava fixar os pontos de passagem das vias romanas no mapa de Portugal.
Tanto Aeminium como Conimbriga eram cruzadas por uma estrada romana, que ligava Olisipo a Bracara Augusta, atravessando o rio Mondego (Munda), mas Aeminium, ao contrário de Conimbriga, nunca foi abandonada.
De Aeminium restam poucos vestígios de época romana, sendo o criptopórtico, localizado no Museu Machado de Castro, um dos mais importantes e melhor conservados do mundo. (CARVALHO; COSTEIRA DA SILVA; LACERDA; 2021: 144).
No lugar onde hoje se encontra o museu Machado de Castro encontrava-se o forum da cidade, desempenhando um papel fulcral no urbanismo de Aeminium, pois aí se intersectavam os dois principais eixos da cidade.
O espaço forense data da época de Augusto, mas é ampliado (para sul e poente) em meados do século I, possivelmente sob Cláudio.
Para a sua construção foi necessário a edificação do criptopórtico que permitia vencer o declive da colina e estabelecer-se uma plataforma artificial.
Essa plataforma artificial que suportava a estrutura o forum manteve-se inalterada até aos nossos dias, devendo-se a sua conservação ao facto de, durante a Idade Média, ter sido edificado um palácio de um membro do clero sobre o forum, edifício que actualmente alberga o Museu Machado de Castro.
Trabalhos realizados em 1930, no paço, convertido em museu desde 1911, chamaram a atenção para essa infra-estrutura romana que posteriormente (1955 a 2004) foi objecto de di-
versas campanhas de investigação arqueológica e restauro. No entanto, sabia-se da existência de galerias romanas entulhadas.
Esta complexa estrutura era composta por uma galeria de túneis subterrâneos com vários arcos no topo, tendo sido construído em dois andares. No piso superior, uma galeria em forma de de abóbada envolve outra do mesmo traçado. Em cada braço, três passagens dão acesso de uma a outra galeria, no topo as galerias também comunicam umas com as outras. A construção desta estructura foi a solução encontrada para ultrapassar o declive natural do terreno, permitindo assim a implantação do forum da cidade.
Junto ao topo norte do criptopórtico, encontraram-se as fundações da ábside que integrava a basílica de duas naves situada nesse lado do forum .
O projecto de remodelação e ampliação do Museu Nacional de Machado de Castro proporcionou a realização de extensos trabalhos arqueológicos entre 1998 e 2007, não só na área das suas instalações (que ocupam a superfície do antigo forum de Aeminium) mas também na zona contígua a poente onde se edificaram dois novos corpos. Conclui-se assim, que, no dealbar do século I d.C., o quarteirão poente contíguo ao forum de Aeminium estaria reservado a uma área de serviços que ladeava o decumanus maximus, designadamente uma fullonica.
Tratando-se de uma imponente obra de engenharia, a construção do criptopórtico contemplou o escoamento das águas subterrâneas, recorrendo, inclusive, à instalação de um fontenário público. Esta complexa estrutura tem sido alvo de vários estudos, ao longo dos tempos, salientando os publicados por Bairrão Oleiro (1955-1956); Jorge de Alarcão (2008) e P. André; Pedro Carvalho (1998), Pedro Alarcão; P. Barreiras; F. Santos (2009 e 2010) e ainda D. Matias; Ricardo Costeira da Silva (2021), entre outros referidos na bibliografia.
Adjacente ao criptopórtico, a sul, corre um grande esgoto, provavelmente a cloaca maxima de Aeminium, em direcção ao rio, formando patamares escavados para facilitar o escoamento e a sua manutenção. Esta infra-estrutura manteve-se em uso até o século XX.
O famoso farol de Hércules na Corunha deve, possivelmente, a sua construção a um arquitecto, Caius Servius Lupus, cuja origem ficou selada numa inscrição. Sendo de Aeminium, muito possivelmente também o criptopórtico foi edificado sob sua orientação.
Aeminium seria dotada de uma muralha romana, embora ainda esteja por definir o seu perímetro exacto.
No Museu Nacional Machado de Castro poderá visitar as estruturas do Criptopórtico.
O Museu Machado de Castro ocupa o imóvel do palácio de um membro do clero construído sobre a plataforma do forum, transformado em Museu em 1911. Trabalhos realizados em 1930, no paço, entretanto convertido em museu, chamaram a atenção para essa infra-estrutura romana que posteriormente (1955 a 2004) foi objecto de diversas campanhas de investigação arqueológica e restauro.

Criptopórtico de Aeminium
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Poderá consultar ainda:
-de-castro/
http://www.museumachadocastro.pt/pt-PT/minisitios/
ContentDetail.aspx?id=82