CAETOBRIGA, Setúbal

Texto a partir de: BARATA, Filomena (2023) Cidades Romanas da Lusitânia em Território Português. Lema d’Origem.

Mapa a partir de: BARATA, Filomena (2023) Cidades Romanas da Lusitânia em Território Português. Lema d’Origem.

As origens de Setúbal remontam, segundo os investigadores, ao início da Idade do Ferro, possivelmente já relacionadas com a exploração de sal e comércio marítimo. Na Época Romana assiste-se ao crescimento do povoado inicial e das actividades comerciais e portuárias, aliadas ao incremento
das unidades de transformação do pescado.
Caetobriga dependia administrativamente de Salacia, principal aglomerado urbano do estuário do Sado, que seria a capital de ciuitas.

Os testemunhos mais antigos da Setúbal romana remontam ao período augustano, com o funcionamento de uma olaria de produção de ânforas lusitanas. A partir da segunda
metade do século I d.C., Caetobriga ganha rapidamente relevo como porto comercial e fabril, tendo por base a produção de preparados de peixe, actividade económica que se estendeu à antiga ilha de Achale, actual Troia, a um conjunto de estabelecimentos no litoral da Arrábida, até à baía de Sesimbra, quer especializados como o Creiro, quer integrados em explorações agro-pecuárias como a Comenda. As produções piscícolas eram embaladas em um único tipo de ânfora (Dressel 14).
A partir do segundo quartel do século III, pese a recessão na passagem do século II para o III, este sector de actividade fabril mostra-se ainda activo, embora se assista a uma profunda reorganização que se manifesta na segmentação ou parcelamento dos estabelecimentos oficinais e da diversificação de salgas e molhos, entre os quais se destacaria o garum.
Até agora são conhecidos vestígios de quatro presumíveis domus, amplamente decoradas, que se situavam na encosta sul da Colina de Santa Maria, debruçadas sobre a praia e a baía.
Caetobriga é, portanto, essa cidade referida por Ptolomeu e que o Itinerário de Antonino localizava numa das vias que ligava Olisipo (Lisboa) a Emerita (Mérida), a 24 milhas de Olisipo (de Olisipo a Aquabona 12 milhas; de Aquabona a Caetobriga, 12 milhas), e que foi, durante muito tempo, identificada com as da cidade fronteira de Troia.
A partir de 1957, volta a reacender-se o problema da localização de Cetobriga, uma vez que as escavações que o Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal revelaram a existência de um importante centro urbano da época romana em Setúbal, assumindo-se esta cidade era a Cetobriga dos Romanos.
“As intervenções arqueológicas realizadas pelo MAEDS na área urbana de Setúbal vieram precisamente comprovar a existência de uma povoação romana, tendo a distribuição dos seus vestígios ocupado não só o subsolo do burgo medieval muralhado, mas também o dos arrabaldes de Troino e Palhais, em uma extensão linear com cerca de 700m” (…) permitindo pensar como uma cidade polinucleada, cujo principal núcleo administrativo se teria situado no território da actual cidade de Setúbal, mas cujos principais sectores produtivos da fileira de preparados piscícola se localizariam, por um lado, em Tróia (oficinas de salgas e molhos de peixe), e, por outro, na margem direita do Sado (olarias de ânforas) a jusante de Alcácer do Sal, pontuando com as suas manchas florestais e cais o rebordo do extenso salgado que, com a riqueza piscícola da região, fizeram a fortuna de Caetobriga, cidade de artérias aquáticas” (SOARES e TAVARES DA SILVA. 2018. 14-16).
As escavações realizadas, nos anos 80, na Praça do Bocage, revelaram uma ocupação desde a primeira metade do século I d.C. e a edificação de uma oficina de produção de preparados piscícolas, na segunda metade do mesmo século.
Mas para além das cetárias da fábrica da Travessa Frei Gaspar, outras foram assinaladas e estudadas, pela equipa do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setubal, designadamente na Praça do Bocage e na Rua António Januário da Silva.

Trabalhos arqueológicos mais recentes revelaram vários vestígios no Centro Histórico de Setúbal, distribuindo-se por uma extensão de quase 1 km, de que se destaca o conjunto de cetárias na Travessa Frei Gaspar, por ser visitável, bem como os vestígios do Largo da Misericórdia, onde foi identificada
uma olaria e fornos do período Tibério-Claudio (SOARES e TAVARES DA SILVA. 2018. 19), e em muitos outros pontos da cidade. Podemos ainda referir o aparecimento um importante edifício e de mosaicos polícromos, datados do século III, na Rua Arronches Junqueiro, n.o 75, que ajudam a confirmar a existência de uma cidade com as suas áreas residenciais e edifícios públicos.
Refere-se ainda a descoberta, no início do século XX, de uma necrópole nas proximidades do Miradouro. Esta necrópole de inumação foi utilizada entre os séculos II e IV d.C.

Conhece-se também a via romana designada por “Estrada do Viso”, de que se identificou um troço de 300m, localizado nos arredores de Setúbal, na localidade do Grelhal. Este
troço de estrada romana fazia parte da rede viária da Lusitânia, com várias ligações para Sul, a exemplo de Salacia (Alcácer do Sal) e Ebora (Évora), até Emerita Augusta (Mérida, Espanha), a capital da Lusitânia. Para norte, a estrada ligaria a Equabona (Coina), de onde, por via fluvial, se atravessaria até Olisipo (Lisboa).


Poderá consultar:
http://maeds.amrs.pt/exposicoes.html
https://www.facebook.com/Museuarqueologiasetubal?-
fref=ts

Em Setúbal há vários sítios visitáveis:
As cetárias da Travessa Frei Gaspar, onde se encontra o posto de informação da Região de Turismo da Costa Azul, que atestam a indústria de preparados de peixe, entre os séculos I e V d.C.

O Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS) tem uma Exposição permanente de

Arqueologia que percorre o tempo, desde o Paleolítico Inferior até à Época romana.

Tem ainda uma exposição permanente de Etnografia, onde se apresentam as actividades tradicionais do Distrito de Setúbal.

Bibliografia:
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    tobriga.pdf

    Pode ainda consultar:
    Património Arqueológico do Distrito de Setúbal. Subsídios para uma carta arqueológica (1993)
    Núcleo urbano da cidade de Setúbal / Núcleo intramuros deSetúbal IPA.00012826
    http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx…
    http://www.geocaching.com/…/GC3KX35_setubal-romano–via-roma

    http://maeds.amrs.pt/…/PUBL…/2010/mosaicos%20_cae-
    tobriga.p

    Núcleo Urbano da Cidade de Setúbal/Núcleo Intramuros de
    Setúbal. IPA.00012826
    http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.
    aspx?id=12826

    Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS)