EBVROBRITTIVM
É Plínio o Velho que refere a existência, na Lusitânia, de uma cidade denominada por Eburobrittium, entre Collipo (perto de Leiria) e Olissipo (Lisboa), sem que se refira à sua localização exacta.
O Cisterciente Bernardo de Brito, autor da Monarquia Lusitana, situou a antiga cidade romana em Alfeizerão; o arqueólogo Eduíno Borges de Garcia situou-a em Amoreira de Óbidos, mas são múltiplas as localizações indicadas, ao longo dos tempos, pelos estudiosos, a exemplo dos mais recentes de Pedro Barbosa que apontavam para Perreitas enquanto Jorge Alarcão e Vasco Mantas, sugeriam já uma localização próxima de Óbidos.
Em 1994, durante os trabalhos de construção da autoestrada designada por A8, foram postos a descoberto vestígios arqueológicos que conduziram à realização de trabalhos de escavação local.
Foi assim, por acaso, que se descobriu uma cidade romana que alguns autores reconheceram ser a velha cidade de Eburobrittium e que se terá desenvolvido entre o final do século I a.C. e a segunda metade do século V d.C.
Contudo os elementos até agora encontrados no local não permitem comprovar que, efectivamente, aquelas ruínas sejam as da cidade mencionada por Plínio.
Os trabalhos de escavação tiveram a coordenação do arqueólogo José Beleza Moreira.e foram financiadas, nas duas primeiras campanhas, através do extinto IPPAR e posteiormente pela Câmara de Óbidos e pela Associação Nacional de Farmácias, que entretanto se tornou proprietária da quinta onde se encontra a estação arqueológica.
Foram, assim, identificados o Fórum, as Termas entre outras estruturas romanas e medievais.
Admite-se hoje que Eburobrittium foi sede de civitas, um território que se estendia por uma área que confinava com as civitas de Collipo (Leiria), Scallabis (Santarém) e Olisipo (Lisboa).
«Embora fazendo “fronteira”, a norte — que não se sabe se seria natural [talvez o Rio Alcabrichel (Alarcão, 1990, p. 381) ou a Serra de Montejunto], ou, então, artificial (mais provável) —, com o Municipium de Eburobrittium, todo o território do actual concelho de Torres Vedras encontra-se inserto no Municipium Olisiponense — “As estações arqueológicas são numerosas na área de Torres Vedras, onde algumas inscrições funerárias mencionam cidadãos inscritos na tribo Galéria. É forçoso, por isso, incluir a área no Municipium de Olisipo. A Galéria era a tribo de Olisipo, enquanto a de Eburobrittium deveria ser a Quirina.” (Alarcão, 1988, p. 47). Em obra de 1990, Jorge de Alarcão (p. 366) refere-se, novamente, a essa “fronteira”: “Do outro lado da serra de Montejunto, situava-se Eburobrittium, civitas cuja fronteira vinha entestar com a de Olisipo por alturas de Torres Vedras.”
Também Vasco Mantas, seis anos mais tarde, se lhe refere nesse sentido (Mantas, 1996, p. 853-886). A capital do território de Eburobrittium (municipium, a partir dos finais do século I d. C.), situava-se nos arredores de Óbidos (Mantas, 1996, p. 858, 859 e 863), mais precisamente, a cerca de 1200 metros para nordeste daquela Vila (freguesia de Gaeiras, e sob o IP6), embora tivesse já sido aventada a hipótese — hoje, de todo, posta de parte — de aquela cidade romana poder ter correspondido às actuais povoações da Amoreira de Óbidos (Garcia, 1971; Alarcão, 1988, p. 47; Mantas, 1996, p. 856), de São Mamede (Mantas, 1996, p. 862) ou, ainda, da Columbeira, Bombarral (Alarcão, 1990, p. 381)».
Citação e mapa: in «Cerâmicas finas romanas do Museu Municipal Leonel TrindadeII: a terra sigillata» EURICO DE SEPÚLVEDA, ÉLVIO MELIM DE SOUSA, VÍTOR CORDEIRO DE SOUSA
Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 6. número 1. 2003, p. 299-321Consultável em:http://www.patrimoniocultural.pt/…/revistaportug…/6_1/15.pdf
Do que se conhece, «parece ter sido uma cidade aberta, sem capacidade de defesa, aspecto que terá levado ao seu abandono no âmbito dos conturbados tempos que marcaram o declínio do Império Romano. Terão sido por certo as preocupações de ordem defensiva, aliadas a eventuais alterações da geografia local (com o recuo das águas da Lagoa) que terão motivado a “reinstalação” do burgo no local onde hoje se encontra a vila de Óbidos. Se assim for e tendo em conta o elevado grau de destruição dos edifícios, em altura, é de admitir que alguns dos edifícios da actual vila, possam integrar materiais originais da antiga cidade romana».
in: Eburobrittium – Cidade Romana
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Recolha: Filomena Barata