MIROBRIGA
Caracterização do Sítio Arqueológico de Miróbriga – Santiago do Cacém
Localização: Chãos Salgados, concelho de Santiago do Cacém, distrito de Setúbal.
Vista Geral. Fotografia aérea de Filomena Barata, 1995
O aglomerado urbano de Miróbriga foi identificado, durante muitos anos, como tratando-se de um “Santuário Rural”, sendo muitas das suas infraestruturas justificadas como local de distração dos peregrinos que aí se deslocavam, tal como o definia D. Fernando de Almeida. No entanto, a continuação das escavações em Miróbriga veio confirmar a existência de uma cidade romana, tornada município na época dos imperadores flávios, no século I. Com aproximadamente 10 hectares de extensão, são conhecidas algumas das suas estruturas: um forum, ou centro cívico e religioso; zonas comerciais; balneários públicos; zonas habitacionais e um hipódromo, onde se realizavam corridas de cavalos.
Fontes antigas: Plínio e Ptolemeu.
Quadro geográfico: Miróbriga fica situada no limite de uma faixa acidentada que se desenvolve a Este, constituída pelos contrafortes da Serra de Grândola e do Cercal, de que a colina onde se situa o oppidum se pode considerar a retaguarda. A Oeste, distando aproximadamente 15 Km em linha recta, o Oceano Atlântico.
Antecedentes/ocupação anterior: Oppidum da Idade do Ferro. Alguns investigadores (Carlos Tavares da Silva) fazem-na recuar até à Idade do Bronze. Contacto com Roma: a partir de finais do século II a. C.Ocupação plena: Século I d. C. Oppidum Stipendiarium, segundo Plínio. Ascendeu a Municipium na época flávia.
Grandes intervenções arquitectónicas: Época flávia.

Esquema da malha urbana: A área nuclear do aglomerado urbano ocupa aproximadamente 3 ha. Aparecem vestígios dispersos numa área com cerca de 8-9 ha. A sua malha urbana adapta-se à topografia, desenvolvendo-se o casario em volta do forum como que em anéis concêntricos.Arquitectura doméstica: Várias insulae que atestam uma ocupação entre o século I d.C. e o século IV d. C. e três domus (?).

Obras Públicas

Vista Geral. Fotografia aérea de Filomena Barata, 1995
Forum: Orientado Noroeste/Sudeste. Praça praticamente quadrangular e templo in antis centralizado com podium. Estruturas que devem corresponder a uma Basílica e a uma Cúria.
Arquitectura religiosa: Dois templos um dedicado ao culto imperial e outro a Vénus (?).

Forum de Miróbriga
Termas: Balnea com dois edifícios adossados e articulados entre si, provavelmente para uso descriminado dos dois sexos. Datáveis da segunda metade do século I-século II d. C.

Estruturas hidráulicas: São conhecidos inúmeros esgotos e canalizações ao longo do aglomerado. Não se conhecem fontes ou poços no interior do núcleo urbano actualmente conhecido, onde apenas se identificaram reservatórios e um poço de decantação junto às termas. Nos terrenos adjacentes foram, contudo, localizados dois putei.
Locais de espectáculo: Um hipódromo ou circo, distando do centro do aglomerado aproximadamente 1 Km. Não se conhecem vestígios das suas bancadas. A sua construção deve datar do século II d. C. e o auge da sua utilização deve ter correspondido ao século III d. C., seguida do seu declínio a partir de finais dessa centúria.Rede viária: Os troços conhecidos de calçadas são construídos com grandes lajes assentes directamente no afloramento xistoso ou sobre o solo. Carecem de qualquer tratamento para a sua colocação, ou seja statumen e rudus. Medem, em média, aproximadamente 10-11 pés de largura.
É o único exemplar de planta completa conhecido, até hoje, em Portugal.
A existência do hipódromo romano testemunha a existência de corridas de cavalos ou de carros puxados por dois ou quatro cavalos – bigas ou quadrigas, em Miróbriga .
Na sociedade romana este tipo de espectáculos públicos, assim como, representações teatrais e combates faziam parte da vida quotidiana de qualquer cidade importante.
O hipódromo media aproximadamente 370x75m, era dividido ao meio pela spina, conforme se pode ver no exemplo que se segue e possuía uma meta em cada extremidade.
No que respeita às bancadas não se encontraram vestígios, as quais deveriam ser construídas em madeira.


Divindades identificadas: Vénus, Marte, Cibele (?) e Vulcano (?).
Necrópoles: Apenas se conhecem duas sepulturas tardias, possivelmente medievais. Recentemente foi identificada uma terceira sepultura (ainda não escavada), que aponta para o período tardo-romano.

Pontão
Estado de conservação: Razoável. Foi objecto de várias acções de manutenção, conservação e restauro, fundamentalmente nos Balnea.
Infra-estruturas de apoio: Um «Centro Interpretativo».

Texto: Filomena Barata, a partir de: MIRÓBRIGA: URBANISMO E ARQUITECTURA
O Roteiro das Ruínas de Miróbriga poderá ser consultado aqui